Mosteiro de Lorvão

Monumento Nacional classificado por Decreto de 16-06-1910, publicado no DG n.º 136 de 23-06-1910; Perímetro de Proteção (ZEP), definido por Portaria publicada no DG, II Série, n.º 269, de 18-11-1960.

 

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Envolta em diversas lendas, a fundação do Mosteiro de Lorvão tem vindo a ser recuada até ao séc. VI, época em que foi pela primeira vez identificada a paróquia suevo-visigótica de "Lurbine", tendo sido seu fundador o abade Lucêncio, que se sabe ter assistido ao Concílio de Braga em 561.

Muito embora subsista uma pedra de mármore com ornato visigodo, os primeiros documentos escritos só aparecem depois da primeira Reconquista de Coimbra, em 878, data a partir da qual surgem os primeiros documentos escritos testemunhando a existência de uma comunidade que desempenhou um importante papel no fomento agrário e repovoamento da região. Os monges de Cluny, que vieram a fundar o Mosteiro de Lorvão, dedicaram-no aos mártires São Mamede e São Pelágio.

No séc. X, a sua importância era já considerável e o Mosteiro atingiu grande prosperidade graças a doações de fiéis e ricos-homens, nomeadamente, durante o governo do abade Primo, que mandou vir de Córdova artistas especializados para fazerem obras na região. A investida muçulmana de 987 pôs fim a este surto de progresso mas, após 1064, a comunidade laurbanense recuperou o seu prestígio e esplendor e, em redor do Mosteiro, cresceu uma população atraída pelo trabalho oferecido pelos monges nas suas vastas propriedades.

   

Depois de uma fase inicial na posse dos monges eremitas de Santo Agostinho ou sem regra fixa, em 1109, o Conde D. Henrique fez doação do Mosteiro ao Bispo de Coimbra, tendo o mesmo adotado, em meados do séc. XI, a Regra Beneditina, que se manteve até 1200, quando passou para a Ordem de Cister. Nesta data, não apenas se adotou a nova reforma cisterciense, como o Mosteiro passou a ser feminino, tendo por invocação Santa Maria.

Deve-se esta profunda mudança que, naturalmente implicou também adaptações nos espaços, a D. Teresa, filha do rei D. Sancho I. Esta, vendo o seu casamento anulado com Afonso XI de Leão, veio para Lorvão e aqui introduziu a congregação feminina, expulsando os monges devido ao seu relaxamento. Sob o hábito cisterciense e, apesar de Senhora do Castelo de Montemor-o-Velho, do termo da vila e de todos os seus rendimentos, haveria de viver em Lorvão até à sua morte, em 18 de Junho de 1250. Também D. Sancha, sua irmã, haveria de viver em Lorvão, até que as primeiras "enceladas" e monjas de Lorvão se transferissem, em 1219, para o Mosteiro de Santa Maria de Celas que havia fundado na sua Quinta de Vimarães, junto a Coimbra. Na Clausura de Celas haveria de viver até ao dia 13 de Março de 1229, sendo trasladada para o Mosteiro de Lorvão. Esposa de D. Henrique I de Castela, D. Mafalda, veria, à semelhança do ocorrido com D. Teresa, sua irmã, o seu matrimónio ser anulado, e regressada a Portugal, procurou refúgio em Lorvão, local onde preparou a introdução da Regra de Cister no beneditino Mosteiro de Arouca que lhe havia sido doado por Afonso II, seu irmão.

Desta época até às grandes campanhas de obras que, nos séculos XVII e XVIII, conferiram ao Mosteiro o aspeto que hoje possui, contam-se vários períodos de esplendor, de que se destacam os das abadessas D. Catarina de Eça e D. Bernarda de Alencastre, no séc. XIV e os das abadessas D. Bernarda Teles de Menezes e D. Teresa Luzia de Carvalho, no séc. XVIII. Estas ilustres preladas, de famílias da mais alta linhagem, dotaram o mosteiro com preciosas obras de arte. Dada a importância deste cenóbio no contexto político nacional, não faltaram também épocas de crise, umas relacionadas com a eleição das abadessas, como o caso que opôs D. João III a D. Filipa de Eça, outras com a conjuntura política e social, como durante a peste negra de 1349.

  

A atualização do Mosteiro teve início nos últimos anos do século XVI, incidindo, em primeiro lugar, no claustro, numa linguagem renascentista, onde se incluem várias capelas, a que se acrescentaram, em 1677, as varandas, já de pendor mais próximo do barroco. A portaria data de 1630, integrada no novo edifício, iniciado na década de 1620. Foi, no entanto, o ciclo barroco que mais marcou o mosteiro, intimamente relacionado com o culto oficializado às Santas Rainhas, cujo processo terminou em 1724.

Numa primeira fase, renovou-se o retábulo-mor e o dourado invadiu o interior da igreja. Em 1728, edificava-se a nova noviciaria, ato duplamente simbólico já que marcou o início de uma nova geração de religiosas e, ao mesmo tempo, o fecho de um grande ciclo renovador.

Todo este esforço seria, no entanto, inviabilizado quando, entre 1748 e 1761, se procedeu a nova remodelação. A igreja foi reconstruída e o seu traçado denota a forte influência do barroco joanino de Mafra. Para além da arquitetura, são nela merecedores de especial atenção, os túmulos de prata das Santas Teresa e Sancha, da autoria do ourives portuense Manuel Carneiro da Silva, datados de 1715; as grandes telas de Pascoal Parente, representando São Bento e São Bernardo, nos altares sob o zimbório; e a porta de entrada de pau-preto, com aplicações de bronze dourado. Paralelamente a esta campanha, procedeu-se à mobilação litúrgica e artística. 

A separação entre a Igreja e o Coro é feita por uma grade de ferro forjado com aplicações de bronze dourado, a melhor obra de rococó do seu género, em Portugal. Sobre ela ergue-se o órgão de duas fachadas em sóbrio, mas gracioso, neoclássico. A particularidade das duas fachadas se encontrarem opostas uma à outra, tornam-no único no país. Foi feito por António Xavier Machado Cerveira em 1795 e tem 61 registos.

Destaca-se, num dos altares do coro, a formosa imagem de Nossa Senhora da Vida, do séc. XIV. Mas, o que naquele espaço, mais desperta a admiração é, sem dúvida, o grandioso cadeiral em jacarandá preto do Brasil e nogueira, construído entre 1742 e 1747, pela delicadeza dos ornatos, pela espiritualidade tocante dos santos mártires esculpidos sobre as cadeiras e pela nota de fantasia dada pelas máscaras existentes na parte inferior dos assentos.

É o mais espetacular cadeiral português e o mais magistral, sob o ponto de vista técnico.

O Claustro é um recinto acolhedor e harmonioso, edificado ao estilo do classicismo coimbrão, dotado de algumas capelas devocionais datadas dos primeiros anos do séc. XVII.

A Revolução Liberal de 1820 e a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1834, deram início à depredação de todas as riquezas acumuladas durante séculos. Espoliadas dos seus bens, as últimas freiras de Lorvão acabaram na mais degradante miséria. Tendo sido proibido ao Mosteiro de Santa Maria de Lorvão receber noviças, a última monja faleceu a 8 de julho de 1887.

O património artístico de Lorvão encontra-se disperso por diferentes Museus Nacionais, destacando-se o espólio existente no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, na Torre do Tombo (pergaminhos e missais, entre os quais o célebre Apocalipse de Lorvão) e na Biblioteca da Universidade de Coimbra.

Abandonado durante a primeira metade do séc. XX, o Mosteiro viria a ser restaurado pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, tendo então ficado com três dormitórios, noviciaria, hospício, coro, igreja, dois claustros, refeitório, botica, cartório, oficinas, celeiro e outras dependências. A generalidade destas instalações foi, até 2012, ocupada por uma unidade hospitalar para doentes de foro psiquiátrico, o Hospital Psiquiátrico de Lorvão.

 

Museu do Mosteiro de Lorvão

A criação de um Museu de Arte em Lorvão foi anunciada em 1921, sendo a iniciativa da responsabilidade da Junta da Paróquia local. 

O Museu exibe peças, do espólio do Mosteiro, de temática histórico-artística, paramentários e outros objectos litúrgicos, telas e peças de escultura, acervo do antigo cenóbio. Para além das pinturas, cerâmicas, mobiliário e tapeçaria dos sécs. XVII e XVIII, destacam-se as esculturas de São Bento e São Bernardo, de cerca de 1510 e um Cristo Crucificado do séc. XV. Entre os paramentos, salienta-se o véu da píxide, bordado a ouro e aljôfar, o único no mundo a ser usado por uma mulher, abadessa do Mosteiro, depois de especial autorização Papal. Das peças de ourivesaria destacam-se uma Virgem com o Menino, do início do séc. XVII, e a custódia, datada de 1760, primorosa obra da ourivesaria de Lisboa.

 

Pisão

Conjunto arquitetónico rural, constituído por um Lagar de Azeite, duas Azenhas, uma Casa de tipologia rural e um Forno da Cal, localizado a norte da Vila de Lorvão. Este conjunto, foi classificado pela Portaria n.º 637/2010, publicada no DR, 2ª série, n.º 164 de 24 de agosto de 2010, Conjunto de Interesse Público, tendo a mesma Portaria fixado a respetiva Zona Especial de Proteção (ZEP).

Ocupando uma área extensa, o conjunto apresenta uma notável coesão, unidade e integração no sétio e na paisagem, que se encontra preservada. Destaca-se o particular significado a nível histórico-social e etno-tecnológico local deste conjunto.

O Lagar de Azeite possui ainda todo o equipamento essencial a um Lagar de Varas, sendo um exemplar tipológico que se salienta pela sua originalidade e escassez. Movido a água, possui quatro áreas funcionais: zona de primeira moagem, varas de prensagem, caldeira e local de receção do bagaço resultante da prensagem. 

As Azenhas, uma das quais ainda em funcionamento, têm a particularidade de possuir roda exterior e são distintas: a azenha anexa ao lagar, de menores dimensões, possui uma única mó; a azenha de maiores dimensões possui dois sistemas de moagem: para milho e para trigo. 

O Forno de Cal apresenta hoje apenas os muros laterais em forma de V invertido e paredes interiores que mantém a forma circular. Este exemplar integra-se na tradicional exploração de cal do concelho de Penacova, relacionada com a existência de pedreiras calcárias na região, e que se encontra documentada desde o séc. XVII. O próprio Mosteiro de Lorvão terá, no início do séc. XVIII, começado a produzir cal em forno edificado na cerca que, possivelmente, tratar-se-á deste Forno do Pisão.

A casa anexa possui tipologia rural e apresenta caraterísticas construtivas muito interessantes inerentes a este tipo de imóvel.

O espaço visava suprir algumas das necessidades do Mosteiro e, a par da Cal, produzia azeite e linho pisoado.