O Mondego foi, durante séculos, a principal via de comunicação entre as populações do interior e do litoral. A inexistência de caminhos-de-ferro, estradas, transportes internos e a rapidez e baixo custo do transporte fluvial transformaram o Mondego, da nascente até à foz, no responsável pela subsistência e economia das populações por ele banhadas. De Penacova partiam embarcações carregadas de madeira, lenha, carqueja e carvão, com destino a Coimbra e Figueira da Foz, trazendo, no regresso, sal, pescado, milho, pipas de vinho e outras mercearias.
Uma percentagem muito grande da população de Penacova dedicou-se sempre a barcagem e atividades complementares ligadas ao rio): barqueiros, carafetes, carroceiros, etc… (Relvas, in Lameiras 1988.
Vários eram os portos importantes no carregamento e descarregamento de mercadorias ao longo do Mondego, a montante de Coimbra, no século XIX e ainda em parte do século XX: Coimbra, Foz do Caneiro, Rebordosa, Ronqueira, Carvoeira, Ponte de Penacova, Vila Nova, Raiva, Carvalhal, Oliveira do Mondego, Almaça e Gondolim (atual Gondelim). De todos estes portos há a salientar a grande importância comercial do Porto da Raiva, que chegou a ser um dos maiores e mais importantes do país ate meados do séc. XIX, e até ao findar da navegação do Mondego o mais importante ao longo deste rio.
Era principalmente na Raiva que fabricantes de tecidos, negociantes, recoveiros e estudantes, vindos das Beiras a cavalo ou em carros de bois, tomavam o seu transporte - as barcas - em direção a Coimbra, facilitado pelo Ramal da Raiva - que era uma estrada que passando por nove povoações, fazia a ligação «Estrada Real da Beira-Raiva» (Peixoto 1947, in Lameiras 1988). Na Raiva existia um cais e uma construção destinada ao empilhamento de lenha e madeira a exportar, tal como armazéns de sal (certamente um dos produtos mais transacionados ao longo deste rio) vindo da Figueira e indo depois até Espanha e outras localidades. Aveiro, Coimbra, Lavos, Ílhavo, Porto e província do Minho eram os pontos mais importantes para onde se exportavam as mercadorias saídas do Porto da Raiva.
Ainda no séc. XIX outros dois portos eram de vital importância ao longo do Mondego, que convém também aqui salientar:
Vários eram os sistemas primitivos de transporte no Rio Mondego a montante de Coimbra, no entanto, um tinha lugar de primazia - a barca serrana (designação provavelmente com origem na região litoral, já que na zona o nome pelo qual era comummente conhecida a barca) que assumia, neste contexto, um papel de destaque, encontrando-se no centro das mais importantes atividades económicas e comerciais da bacia do Mondego.
Outros transportes existiam na zona: o barco, o barco do lavrador e o barco de Palheiros, menos significativos na altura quer em número (com exceção para o barco do lavrador), quer em eficácia de transporte de carga.
Desaparecidos já na década de 50 do século XX, várias são as razões apontadas para o desaparecimento destes sistemas primitivos de transporte:
Desde o desaparecimento destes tipos de embarcações, o Município de Penacova tem feito ao longo dos anos a possível preservação da memória coletiva do seu povo em relação à Barca Serrana, com algumas atividades realizadas nesse sentido. Em Penacova existiu até há pouco no átrio da Camara uma barca em exposição de cerca de 7/8 metros mandada fazer propositadamente para ali ser colocada, e que agora se encontra nas águas do Mondego. O exemplar melhor conservado e sem dúvida o maior de todos, mas porventura não tão rigoroso, é o que se encontra patente no átrio do Museu da Marinha em Belém. Para além destas réplicas em tamanho original, existe um número variado de réplicas em miniatura produzida por artesãos locais, que são possíveis de adquirir no Município de Penacova.